domingo , 23 março 2025
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Energia: O Mundo de Sofia

Autores: Enio Fonseca e Decio Michellis Jr.

Os que questionam são sempre os mais perigosos. Responder não é perigoso. Uma única pergunta pode ser mais explosiva do que mil respostas.

O que se perde é infinitamente menor do que aquilo que se ganha. Você se perde nesta forma que você tem agora, mas ao mesmo tempo compreende que você é algo infinitamente maior. Você é o universo inteiro. (Jostein Gaarder; O Mundo de Sofia)

O romance “O Mundo de Sofia”, escrito por Jostein Gaarder (1991), já está disponível em mais de 60 idiomas. Além de ser um romance, também é um guia básico de filosofia e foi transformado em filme e minissérie. Voltado para o público adolescente, este romance ficcional é sobre uma garota chamada Sofia que, aos poucos, passa a refletir sobre grandes mistérios existenciais. Recheado de perguntas fascinantes, tomamos emprestado o desafio e apresentamos a grande questão relativa ao fornecimento de energia elétrica: qual a melhor fonte?

Tipos de Energia Elétrica

A energia do Sol é convertida de várias formas para formatos conhecidos, como: solar, eólica, hidrelétrica, biomassa, biocombustível, biogás, maremotriz, ondas, geotérmica e fotossíntese artificial.

O Sol a estrela central do Sistema Solar, uma esfera de plasma, gera sua energia através da fusão de núcleos de hidrogênio (74% de sua massa, ou 92% de seu volume) para a formação de hélio (24% da massa solar, 7% do volume solar). A cada segundo, mais de 4 milhões de toneladas de matéria são convertidas em energia dentro do centro solar. O Sol formou-se cerca de 4,57 bilhões de anos atrás. Em cerca de 5 bilhões de anos, o hidrogênio no núcleo solar esgotará.

 

A luz solar é armazenada em glicose pelos organismos vivos através da fotossíntese, processo do qual, direta ou indiretamente, sustenta a vida como a conhecemos em nosso planeta. O Sol também é responsável pelos fenômenos meteorológicos, pelo clima na Terra e pelas principais fontes de energia que utilizamos. De forma simples, podemos afirmar que o Sol é energia nuclear a uma distância média segura de 150 milhões de quilômetros ou 8 min e 18 segundos, na velocidade da luz.

Os conceitos dos tipos de energia elétrica podem geram alguma dificuldade de compreensão para o consumidor.  Saiba os principais conceitos envolvidos:

Energia Renovável: É a energia permanente que vem de recursos naturais como sol, vento, rios e correntes de água doce chuva, matéria orgânica, marés e calor, que são renováveis (naturalmente reabastecidos) na medida em que são mantidas ou substituídas pela natureza. O conceito de renovabilidade depende da escala temporal utilizada e os padrões de utilização dos recursos. A energia renovável pode ser sustentável se a taxa à qual extraímos o recurso permanecer abaixo da taxa à qual o recurso se pode reabastecer naturalmente. Quando começamos a colher recursos mais rapidamente do que eles podem ser repostos, a energia renovável torna-se insustentável.

Energia Renovável Poluente: Como exemplo, podemos afirmar que todos os biocombustíveis produzidos geram maior quantidade de dióxido de carbono por unidade de energia produzida ao equivalente fóssil. Mas essa emissão maior é absorvida na produção da biomassa pelo processo de fotossíntese. Teoricamente o ciclo fechado não teria emissões de dióxido de carbono. Na prática, é empregada a energia poluente no plantio, na colheita e na transformação, pelo que o saldo pode ser negativo. Na produção de biomassa é empregada a energia poluente no plantio, na colheita e na transformação. O balanço energético (razão entre a energia total contida no biocombustível produzido e a energia fóssil investida na sua produção) é aproximadamente 8 (12,5 %) ou 9 (11,1 %). Além disso, a biomassa não é verdadeiramente inesgotável, mesmo sendo renovável. Também se ressalta que todas as outras fontes de energia têm diversos aspectos de emissões de poluentes ou de impactos socioambientais em uma dou diversas fases de seu Ciclo de Vida.

Energia Não-Renovável: É a energia temporária que vem de recursos naturais, como a energia da fissão nuclear e os combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) dos quais há uma provisão finita e que não pode ser reposta. Os combustíveis fósseis são considerados não-renováveis já que a taxa de utilização é muito superior à taxa de formação do recurso propriamente dito.

Energia Alternativa: Energia obtida de fontes diferentes das usadas nas grandes usinas comerciais, que atualmente são as usinas térmicas convencionais, as hidrelétricas e as nucleares. Referente à matriz energética vigente: energia nuclear é alternativa no Brasil e principal na França. Energia Geotérmica é principal na Islândia e outros poucos países e insignificante na maioria dos demais países. Os principais tipos atuais de energia alternativa são a energia solar, eólica, das marés, geotérmica, das ondas e da biomassa. Novas tecnologias até desenvolvimento pleno e aplicabilidade econômica também podem ser classificadas como alternativas.

Energia Limpa ou Energia Verde: Conceito relativo e subjetivo onde se busca maior ecoeficiência em relação ao “Business as usual scenario”. Pressupõe uma avaliação comparativa, envolvendo estudo e análise do ciclo de vida do produto para determinar se os ganhos serão positivos.

Energia Sustentável: Envolve a produção de energia que não compromete a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades, cuja capacidade de ser mantida em uma determinada taxa ou nível, evitando o esgotamento dos recursos naturais, a fim de manter um equilíbrio ecológico.  Deve melhorar a qualidade de vida sem causar danos ambientais (mas admite impactos negativos). Todas as fontes de energia, sem exceção, geram impactos negativos, em maior ou menor grau, incluindo desde a implantação (fabricação, construção e montagem), a operação e o descomissionamento. Objetivos de sustentabilidade devem abranger desempenho econômico, ambiental e social de fontes renováveis e não renováveis. Avaliações abrangentes de sustentabilidade devem assegurar que os impactos sociais e ambientais negativos sejam evitados, reduzidos ou compensados e que os resultados positivos sejam maximizados.

Energia Intermitente: É aquela que não pode ser fornecida continuamente devido a fatores não controláveis. Usinas eólicas, fotovoltaicas, heliotérmicas, principalmente as que não possuem armazenamento térmico, ou de baterias, produzem eletricidade de forma intermitente porque dependem das condições climáticas.

Energia Despachável: É aquela em que há controle dos momentos de geração, independentemente das condições climáticas locais. Usinas térmicas e hidrelétricas são exemplos de fontes de energia despachável porque podem produzir energia constantemente, enquanto as energias eólicas e solares sem armazenamento são consideradas menos despacháveis por depender das condições climáticas (vento) ou dos momentos de sol.

Energia Incentivada: Energia elétrica oriunda de empreendimentos de geração que utilizam as seguintes fontes primárias alternativas incentivadas: I – aproveitamentos de potencial hidráulico de potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, destinados à produção independente ou autoprodução, mantidas as características de pequena central hidrelétrica; II – empreendimentos com potência instalada igual ou inferior a 1.000 kW; III – empreendimentos com base em fontes solar, eólica e biomassa, cuja potência instalada seja menor ou igual a 30.000 kW. Recebem incentivos fiscais (IPI, PIS- COFINS, ICMS etc.) e redução ou isenção de encargos setoriais (TUST, TUSD, CFURH etc.).

Energia Incentivada Especial: Empreendimento com base em fontes solar, eólica, ou biomassa, cuja potência injetada nos sistemas de transmissão/distribuição seja menor ou igual a 30.000kW. Características Comerciais: i) Gera contratos do tipo CCEIE; ii) Confere desconto nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão e distribuição; iii) Confere lastro a consumidores especiais e demais consumidores.

Energia de Cogeração Qualificada: Empreendimento regularizado perante a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, atendendo ao disposto na Resolução ANEEL nº 390, de 15 de dezembro de 2009 e legislação específica: i) Potência elétrica instalada maior ou igual a 1.000kW e menor ou igual a 50.000kW; ii) Atender aos requisitos mínimos de racionalidade energética, conforme estabelecido na Resolução ANEEL nº 235/06. Características Comerciais: a) Gera contratos do tipo CCEICOGQ; b) Confere desconto nas tarifas de uso dos sistemas de Transmissão e distribuição a consumidores livre; c) Confere lastro a consumidores livres; d) Não é permitida a venda a consumidores especiais.

Energia Convencional: Empreendimentos não enquadrados nas condições anteriores. Características Comerciais: i) Não confere desconto nas tarifas de uso dos sistemas de Transmissão e distribuição a consumidores livre; ii) Confere lastro somente a consumidores livres; iii) Não é permitida a venda a consumidores especiais.

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)

No conceito da sustentabilidade de forma objetiva, a aplicação de técnicas de Gestão/Gerenciamento de Ciclo de Vida do Produto – Product Lifecycle Management (PLM) são fundamentais!

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica de avaliação e quantificação de impactos ambientais possíveis associados a um produto, bem, serviço ou processo. Segundo a ISO 14040 ACV é a “compilação de avaliação das entradas, saídas e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida”. Essa avaliação é feita sobre todos os estágios de ciclo de vida (“do berço ao túmulo”) do produto ou processo, desde a aquisição da matéria-prima ou sua geração a partir de recursos naturais até sua disposição final, passando por todas as etapas intermediárias (tais como, manufatura, transporte, uso etc.).

É uma técnica de avaliação e quantificação de impactos ambientais possíveis associados a um produto ou processo. Segundo a ISO 14.040 ACV é a “compilação de avaliação das entradas, saídas e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida”.

Essa avaliação é feita sobre todos os estágios de ciclo de vida do produto ou processo, desde a aquisição da matéria-prima ou sua geração a partir de recursos naturais até sua disposição final (por exemplo, desde a extração das matérias-primas no caso de um produto, até o momento em que ele deixa de ter uso e é descartado como resíduo ou é reciclado), passando por todas as etapas intermediárias (matéria prima, manufatura, transporte, uso etc.).

Por essa razão, o ACV é também chamado de “avaliação do berço ao túmulo”. O ACV permite uma análise científica sobre as questões ambientais relacionadas a um produto ou processo, evitando um olhar superficial do seu impacto, a partir de um processo que inclui:

  1. Compilação de um inventário de entradas de energia e materiais relevantes inseridas e emissões ambientais;
  2. Avaliação do impacto ambiental associado com entradas e saídas identificadas;
  • Interpretação dos resultados sobre o impacto do produto ou processo, para melhor nível de informação de tomadores de decisão.

Ao comparar todos os efeitos ambientais associados a bens e serviços pela quantificação de todas as entradas e saídas de fluxos elementares e avaliar como esses fluxos podem estar associados a impactos ao meio ambiente permite a melhor escolha/tomada de decisão benéfica não só para a redução das emissões de GEE, mas também ao meio ambiente.

Na escolha de novos insumos, ou rotas tecnológicas, ou desenvolvimento de novos produtos, serviços ou processos, a Gestão/Gerenciamento de Ciclo de Vida do Produto deveria dar a palavra final!

Sua aplicação é fundamental para caracterizar se a escolha de um tipo de energia para atendimento de determinada demanda local ou regional é efetivamente “Limpa” ou “Verde”: esta avaliação comparativa, envolvendo estudo e análise do ciclo de vida pode determinar se os ganhos serão positivos.

Qualidade de Vida

As pessoas (incluindo nós brasileiros) querem um certo nível de prosperidade e isso, assim como qualidade de vida, é fundamental para o ser humano. Existem milhões de pessoas que vivem vidas “sustentáveis”, com baixas emissões de GEE, porque estão morrendo de fome. Elas desejam e merecem provisões adequadas de alimento, moradia, educação, oportunidades econômicas, direitos políticos e humanos. Não há como ser contra a tecnologia, a urbanidade ou a inovação.

O fornecimento de energia elétrica, bem indispensável à sadia qualidade de vida e, pronta para as necessidades atuais e futuras em condições e quantidade que os consumidores desejam e merecem, exige um comprometimento cada vez maior com a inovação e a competitividade não só econômica, mas também socioambiental.

Para um mundo melhor, mais consciente e solidário, mais do que aparecer com soluções emocionalmente defensáveis, é importante ser sustentável e socioambientalmente responsável, tendo por objeto iniciativas cuja efetividade seja inquestionável.

Como consumidores precisamos considerar nas nossas escolhas (consumo consciente, a redução, o reuso e a reciclagem) a demanda indireta ou oculta de recursos naturais, com destaque sobre os não-renováveis. Ou seja, considerar a energia (incluindo a elétrica), a água, os recursos minerais, os transportes e os processos produtivos e seus impactos no meio ambiente, bem como resíduos gerados ao longo do processo produtivo para orientar as nossas decisões de consumo em todos os produtos, bens e serviços que adquirimos.

Vivemos um paradoxo: a evolução tecnológica está aumentando a nossa dependência e uso da energia elétrica. Mesmo com programas intensivos de eficiência energética o consumo per capita de eletricidade está crescendo. E particularmente as inovações tecnológicas na área de tecnologia da informação estão aumentando a nossa dependência da energia elétrica. Destaque para os data centers, Inteligência Artificial, Cloud (computação em nuvem) e setor bancário com as criptomoedas. São verdadeiros devoradores de energia elétrica.

A pegada energética do setor de TI – Tecnologia da Informação – é estimada em 7% do consumo global de eletricidade, de acordo com o Greenpeace International. Equivale a 160% do consumo anual de energia do Brasil em 2021.

Partindo da crença midiática de que tudo pode ser feito, o limite é nossa imaginação, o fornecimento de energia elétrica, bem indispensável à sadia qualidade de vida, exige um comprometimento cada vez maior com a inovação e a competitividade não só econômica, mas também socioambiental. Exige cada vez mais tecnologia, novos modos de geração e distribuição de conhecimento, diversidade tecnológica e aumento da capacidade de observação e aprendizado sobre impactos socioambientais das novas tecnologias.

Satisfazer as necessidades básicas, elevar o nível da vida de todos, obter ecossistemas melhor protegidos e gerenciados e construir um futuro mais próspero e seguro, onde riqueza econômica – sem ela é impossível investir em preservação ambiental – e melhoramento do planeta são faces da mesma moeda, onde a vida humana é o maior tesouro.

Competitividade Socioambiental

As energias renováveis ​​(eólica, solar etc.) apenas geram eletricidade, enquanto o petróleo é base de muitos dos produtos de categoria essencial à sociedade atual. Com a tecnologia presente é impossível viver sem os mais de 6.000 produtos derivados de petróleo, que são a base dos nossos estilos de vida e da nossa economia. São fundamentais, por exemplo, em medicamentos, equipamentos médicos, vacinas, embalagens de alimentos frescos e congelados (só para citar algumas aplicações). Mas ainda não temos um plano reserva para substituir produtos derivados do petróleo (entre eles os plásticos), em qualidade, disponibilidade e preço.

“100% de energia renovável”, isso não significa “100% de energia livre de carbono”. Para garantir 100% de redução de emissões de energia renovável, o consumo de energia precisa ser combinado com a geração renovável por hora. Apenas a compra de mais energia solar em uma rede que já tem muita geração solar não resultará em emissões zero. A ausência de capacidade de armazenamento suficiente para capturar todo o excesso de eletricidade implica na geração termelétrica com combustíveis fósseis para fixar a energia de origem solar e eólica intermitentes e não despacháveis.

As fontes de energia eólica e solar apresentam baixa densidade de potência e baixa densidade de energia quando comparadas às fontes convencionais, em especial os hidrocarbonetos. Mesmo com os custos declinantes e aparentemente competitivos, os custos de energia elétrica sobem com os custos indiretos destas fontes: subsídios, armazenamento/baterias, expansão da geração térmica para fixar estas energias não despacháveis e intermitentes.

Para atender à demanda global por eletricidade, enormes extensões de árvores e áreas selvagens precisarão ser convertidas em parques solares e eólicos. É impossível resolver a crise climática sem agravar seriamente a crise ambiental considerando a implementação das premissas do Net Zero (Neutralidade de carbono).

A geração nuclear é a mais eficiente em relação à área ocupada. Para a produção equivalente de 1 MWh pode ocupar uma área até 700 vezes menor que uma unidade solar fotovoltaica ou uma usina eólica.

Energia: O Mundo de Sofia

As energias eólica e solar também consomem 10 a 20 vezes mais minerais críticos do que outras tecnologias, com repercussões no número de minas necessárias em todo o mundo. Algumas dessas substâncias têm nomes exóticos: vanádio, germânio, platinóides, tungstênio, antimônio, berílio, flúor, rênio, tântalo, nióbio, cobalto, para citar apenas alguns. Os metais raros possuem uma riqueza de outras propriedades que os tornam indispensáveis ​​para inúmeras tecnologias verdes. As condições de trabalho nas minas são terríveis (escravidão, trabalho infantil, mutilação, mortes por desmoronamento, poluição e contaminação). O que o Ocidente fez, ao transferir o fornecimento dos seus metais raros para a China e África (e em países que estão convenientemente fora da nossa vista e da nossa mente, República Democrática do Congo, por exemplo), foi realocar a sua poluição.

As energias eólica e solar são fontes intermitentes (não funcionam sozinhas) que requerem reforço de combustíveis fósseis ou de baterias. A capacidade de armazenamento necessária para alinhar a geração de energia solar ou eólica é de cerca de 25% do consumo anual de energia. Quanto mais energia renovável você tem, mais você paga pelos backups.

O Brasil consolidou progressivamente em seus projetos para geração de energia elétrica as melhores práticas de gestão socioambiental de eficácia comprovadas internacionalmente.

Para um mundo melhor, mais consciente e solidário, mais do que aparecer com soluções emocionalmente defensáveis, é importante ser sustentável e socioambientalmente responsável, tendo por objeto iniciativas cuja efetividade seja inquestionável. É preocupante a facilidade com que a maior parte das pessoas adere de forma acrítica, aceitando o papel menos nobre de uma democracia, a de se comportar como massa de manobra. Com o progresso da Ciência, a mente humana está livre para investigar, questionar, e se necessário invalidar aquilo que não puder ser comprovado, ou que não apresente um mínimo de coerência. Realidade, e não palavras.

O equilíbrio ambiental é dinâmico, indeterminado e difuso – intrinsecamente conflituoso. A legislação ambiental vigente é numerosa (cerca de 200.000 diplomas, atualmente), esparsa e nem sempre atualizada. As normas ambientais são desproporcionais, isto é, não é qualquer um que pode tratar do tema sem especialização.

Práticas que parecem melhorar a qualidade de vida em curto prazo podem conduzir a colapsos desastrosos em longo prazo, é uma questão de ordem tecnológica e econômica, não ideológica

Aqui convivem cada um ao seu modo, com conflituosidade intrínseca, mutabilidade temporal e espacial, na defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida: ecologistas, ambientalistas radicais, românticos, aquecimentistas, céticos, realistas climáticos, ecocentristas, wokes, capitalistas verdes, conservacionistas, ecossocialistas, biocentristas e os devotos da reza brava do capim de ribanceira. Porém, conforme afirmou Willian Shakespeare “os homens podem, porém, interpretar coisas ao seu modo. Livres da finalidade da coisa propriamente dita.”

A legislação ambiental trata de direitos difusos, já que o meio ambiente pertence a todos e a ninguém em particular, apresentando: meta(trans)individualidade, conflituosidade intrínseca, mutabilidade temporal e espacial. Os atos de licenciamento ambiental e outorga do direito de uso dos recursos hídricos são precários. As demandas ambientais são cada vez mais complexas e caras. A atual legislação ambiental garante tudo para garantir absolutamente nada.

Além da a viabilidade técnica e econômica das propostas, o setor elétrico brasileiro está no caminho crescente de valorar os efeitos e perdas de cunho social, cultural e psicológico que os novos investimentos em geração de energia elétrica geram às populações sob sua influência para, a partir desse conhecimento, propor o conjunto de ações mais eficaz para minorar e/ou compensar as interferências geradas.

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Embora as questões ambientais tenham avançado bastante – não há mágica que faça as interferências dos empreendimentos desaparecerem, como por encanto.

Para os ecocentristas radicais a geração de energia elétrica sempre degrada o meio ambiente, independentemente do tipo de fonte. Não importa os inúmeros programas e medidas de controle adotadas. Os impactos ambientais que não puderem ser totalmente eliminados serão impactos residuais sem significação relevante e/ou que estão dentro dos limites permitidos pela legislação ambiental, que concilia o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente, ambos de vital importância para a sadia qualidade de vida da população. No conceito de sustentabilidade, a energia mais ecoeficiente é a que não consumimos. Ao consumir energia de qualquer tipo de fonte, sempre haverá impactos socioambientais negativos.

Transição Energética

O Brasil possui uma matriz elétrica com alto grau de renovabilidade e baixas emissões de gases causadores do efeito estufa, sendo uma das referências mundiais em produção de eletricidade limpa.

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De acordo com a contribuição nacionalmente determinada (NDC) do Brasil ao Acordo de Paris publicada em 2024 o país já se destaca pela elevada participação de fontes renováveis na sua matriz energética – 89,2% de mix de eletricidade e 49,1% de mix de energia.

A matriz elétrica mundial apresenta a participação da eletricidade renovável no consumo final de energia de 30% em 2023. No Brasil é de 89.2 %, ou seja, 3 vezes mais limpa que a média mundial.

A matriz energética mundial apresenta a participação de energias renováveis ​​no consumo final de energia de 13% em 2023. No Brasil é de 49,1 %, ou seja 3,8 vezes mais limpa que a média mundial.

Os desafios para o setor elétrico brasileiro (SEB) consiste em três eixos principais: (i) manter a renovabilidade do parque gerador, (ii) garantir a segurança de suprimento e; (iii) reduzir os custos para o consumidor final.

A transição energética é a mudança do sistema energético mundial para fontes renováveis e sustentáveis. O objetivo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar as mudanças climáticas.

Pretende-se que a transição energética seja feita com o aumento do uso de energias renováveis, como a solar, eólica, hídrica e biomassa e a eliminação do uso de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, junto com a melhoria da eficiência energética e armazenamento de energia e remoção ou compensação de carbono emitido.

Porém, na transição energética estamos investindo em tecnologias certamente menos eficientes na produção de energia (eólica e solar) e menos confiáveis em entregá-la quando necessário, esperando que algo apareça para ajudar e, ao mesmo tempo, impondo, ou prometendo, restrições às escolhas de estilo de vida para lidar com as consequências (gerenciamento da demanda = racionamento).

O impacto dos subsídios “necessários” ao nos privar voluntariamente de tecnologias bem estabelecidas, apenas para substituir infraestrutura existente por outra de baixo carbono ou Net Zero. As leis Net Zero estão parecendo uma forma de auto sacrifício econômico. Livrar-se do petróleo e do gás em busca de emissões líquidas zero até 2050 impactaria seriamente os padrões de vida das pessoas no Brasil e globalmente.

Uma vez que o uso de combustíveis fósseis é a espinha dorsal de todas essas partes da vida, faz sentido dizer que é “altamente improvável” que uma eliminação gradual de combustíveis fósseis seja apoiada quando os consumidores e contribuintes perceberem o impacto no dia a dia. São mais de 6.000 produtos derivados do petróleo bruto que são a base dos nossos estilos de vida e da nossa economia. São fundamentais, por exemplo, em medicamentos, equipamentos médicos, vacinas, embalagens de alimentos frescos e congelados (só para citar algumas aplicações). Mas ainda não temos um plano reserva para substituir produtos derivados do petróleo, em qualidade, disponibilidade e preço. Tentar substituir todos os subprodutos de combustível fóssil por biomateriais será impossível no curto prazo e extremamente difícil no longo prazo.

Uma pesquisa recente da YouGov ([1]) com vários milhares de europeus em diferentes países descobriu que a maioria dos europeus afirmou estar preocupada com as mudanças climáticas. No entanto, quando a pesquisa perguntou quanto eles estavam dispostos a sacrificar, o apoio diminuiu rapidamente. A maioria não apoiou limitar a ingestão de carne ou laticínios, pagar mais por eletricidade ou eletrodomésticos eficientes, limitar o número de filhos ou limitar ou proibir veículos movidos a motores de combustão interna.

As pessoas apoiam a luta contra a mudança climática, desde que não envolva muito sacrifício pessoal ou econômico. À medida que as propostas para combater a mudança climática se tornam mais invasivas, exigindo mudanças comportamentais ou de estilo de vida significativas, elas rapidamente despencam em popularidade.

A partir de 2018, influenciados pela União Europeia, os países começaram a estabelecer metas políticas com o objetivo de atingir emissões “líquidas zero” até 2050 para os países desenvolvidos e 2070 para países em desenvolvimento. O primeiro-ministro Narendra Modi disse na cúpula do clima global COP26 em Glasgow que a Índia atingirá a meta de emissões líquidas zero até 2070. Declaração conjunta de Índia, Bolívia, China, Gabão, Irã, Iraque, Mali, Nicarágua, Panamá e Síria: “Precisamos de um reconhecimento claro de que os países em desenvolvimento precisarão de muito mais tempo além de 2050 para atingir o Net-Zero, dados seus objetivos abrangentes de erradicação da pobreza e desenvolvimento, e atingirão o pico após os países desenvolvidos. Eles precisarão de um prazo adicional para atingir o pico e ir em direção ao Net-Zero, que será além de 2050”.

Com a guerra na Ucrânia e seus impactos na segurança energética mundial os países estão desacelerando suas políticas Net Zero ou mesmo abandonando-as em defesa da segurança energética. Os formuladores de políticas estão começando a compreender a enorme dificuldade de substituir até mesmo uma parcela de apenas 10% dos hidrocarbonetos globais – a parcela fornecida pela Rússia – não importa a impossibilidade de tentar substituir todo o uso de hidrocarbonetos pela sociedade por energia solar, eólica e tecnologias de bateria.

Em um mundo que aparentemente está ficando mais quente e mais frio (extremos climáticos) por causa do aquecimento global, é um desafio confiar cada vez mais em eletricidade não despachável (ou seja, intermitente, geralmente indisponível), dependente do clima de usinas eólicas e solares para substituir, não apenas suplementar, despachável (isto é, carga básica, quase sempre disponível) carvão, gás e energia nuclear. Em outras palavras, se nosso clima está se tornando menos previsível, como é que uma economia de consumo como a nossa pode depender previsivelmente de recursos dependentes do clima?

O enfraquecimento do interesse dos investidores em energia limpa se deve a metas ilusórias, altos custos e falta de financiamento. Os motivos para essa atitude dos investidores são a incapacidade das empresas da economia verde de atingir seus objetivos no prazo, inclusive devido ao aumento de custos, atrasos na emissão de empréstimos governamentais e a falta de disponibilidade de novos financiamentos” (Igor Sechin, Rosneft)

Emissão zero até 2050 é impossível” – Kemi Badenoch, líder conservadora abandona apoio à meta “irrealista”, dizendo que ela não pode ser alcançada sem levar a Grã-Bretanha à falência.

Conclusões

Os impactos ambientais provocados por fontes alternativas, em larga escala, podem ser tão significativos quanto os decorrentes das fontes convencionais. Isto permite concluir que, qualquer fonte de energia que passe a ter uso intensivo, pode gerar impactos socioambientais tão graves e intensos quantos as fontes tradicionais que pretende substituir. Cada tipo de fonte de energia tem sua aplicação e lugar na matriz energética. A escolha deve considerar as especificidades locais e o custo de oportunidade socioambiental. Nenhuma fonte pode ser desprezada!

Autores

Energia: O Mundo de Sofia

Enio Fonseca – Engenheiro Florestal, Senior Advisor em questões socioambientais, Especialização em Proteção Florestal pelo NARTC e CONAF-Chile, em Engenharia Ambiental pelo IETEC-MG, em Liderança em Gestão pela FDC, em Educação Ambiental pela UNB, MBA em Gestão de Florestas pelo IBAPE, em Gestão Empresarial pela FGV, Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, FMASE, foi Superintendente do IBAMA em MG, Superintendente de Gestão Ambiental do Grupo Cemig, Chefe do Departamento de Fiscalização e Controle Florestal do IEF, Conselheiro no Conselho de Política Ambiental do Estado de MG, Ex Presidente FMASE, founder da PACK OF WOLVES Assessoria Ambiental, foi Gestor Sustentabilidade Associação Mineradores de Ferro do Brasil e atual Diretor Meio Ambiente e Relações Institucionais da SAM Metais. Membro do Ibrades, Abdem, Adimin, Alagro, Sucesu, CEMA e CEP&G/ FIEMG e articulista do Canal direitoambiental.com.

https://www.linkedin.com/in/enio-fonseca-8003b8aa

 

Energia: O Mundo de Sofia

 

Decio Michellis Jr. – Licenciado em Eletrotécnica, com MBA em Gestão Estratégica Socioambiental em Infraestrutura, extensão em Gestão de Recursos de Defesa e extensão em Direito da Energia Elétrica, é Coordenador do Comitê de Inovação e Competitividade da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica – ABCE, assessor técnico do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico – FMASE e especialista na gestão de riscos em projetos de financiamento na modalidade Project Finance.

https://www.linkedin.com/in/decio-michellis-jr-865619116

Autor de 27 e-books e coautor de 23 e-books. As 24 publicações mais relevantes estão disponíveis para download gratuito em:

https://independent.academia.edu/DecioMichellisJunior

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