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RESOLUÇÃO CONAMA N° 396, de 3 de abril de 2008

Publicada no DOU nº 66, de 7 de abril de 2008, Seção 1, páginas 64-68

Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das competências que lhe são conferidas pelo art. 8o , inciso VII, da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e o que consta do Processo no 02000.003671/2005-71, e

Considerando que o art. 26 da Constituição Federal inclui entre os bens dos Estados as águas subterrâneas;

Considerando que a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, visa assegurar a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental através da racionalização do uso dos meios, controle e zoneamento das atividades potencialmente poluidoras e o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

Considerando a Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos, particularmente em seus arts. 9o e 10 que tratam do enquadramento dos corpos de água em classes, ratifica que cabe à legislação ambiental estabelecer as classes de corpos de água para proceder ao enquadramento dos recursos hídricos segundo os usos preponderantes;

Considerando que a Resolução no 12, de 19 de julho de 2000, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos-CNRH, determina que cabe às Agências de Águas ou de Bacias, no âmbito de sua área de competência, propor aos respectivos Comitês de Bacias Hidrográficas o enquadramento de corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes;

Considerando que a Resolução no 15, de 11 de janeiro de 2001, do CNRH, estabelece que o enquadramento dos corpos de água em classes dar-se-á segundo as características hidrogeológicas dos aqüíferos e os seus respectivos usos preponderantes, a serem especificamente definidos;

Considerando a necessidade de integração das Políticas Nacionais de Gestão Ambiental, de Gestão de Recursos Hídricos e de uso e ocupação do solo, a fim de garantir as funções social, econômica e ambiental das águas subterrâneas;

Considerando que os aqüíferos se apresentam em diferentes contextos hidrogeológicos e podem ultrapassar os limites de bacias hidrográficas, e que as águas subterrâneas possuem características físicas, químicas e biológicas intrínsecas, com variações hidrogeoquímicas, sendo necessário que as suas classes de qualidade sejam pautadas nessas especificidades;

Considerando ser a caracterização das águas subterrâneas essencial para estabelecer a referência de sua qualidade, a fim de viabilizar o seu enquadramento em classes;

Considerando que o enquadramento expressa metas finais a serem alcançadas, podendo ser fixadas metas progressivas intermediárias, obrigatórias, visando a sua efetivação;

Considerando que a prevenção e controle da poluição estão diretamente relacionados aos usos e classes de qualidade de água exigidos para um determinado corpo hídrico subterrâneo; Considerando a necessidade de se promover a proteção da qualidade das águas subterrâneas, uma vez que poluídas ou contaminadas, sua remediação é lenta e onerosa, resolve:

Art. 1o Esta Resolução dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento, prevenção e controle da poluição das águas subterrâneas.

Art. 2o Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I – águas subterrâneas: águas que ocorrem naturalmente ou artificialmente no subsolo;
II – análises toxicológicas: análises químicas ou bioquímicas realizadas com a função de determinar compostos tóxicos, seus produtos de biotransformação ou seus efeitos em materiais biológicos de organismos potencialmente expostos;
III – aqüífero: corpo hidrogeológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos;
IV – classe de qualidade: conjunto de condições e padrões de qualidade de água necessários ao atendimento dos usos preponderantes, atuais e futuros;
V – classificação: qualificação das águas subterrâneas em função de padrões de qualidade que possibilite o seu enquadramento;
VI – condição de qualidade: qualidade apresentada pelas águas subterrâneas, num determinado momento, frente aos requisitos de qualidade dos usos;
VII – efetivação do enquadramento: alcance da meta final do enquadramento;
VIII – enquadramento: estabelecimento da meta ou objetivo de qualidade da água (Classe) a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um aqüífero, conjunto de aqüíferos ou porção desses, de acordo com os usos preponderantes pretendidos, ao longo do tempo;
IX – Limite de Detecção do Método (LDM): menor concentração de uma substância que pode ser detectada, mas não necessariamente quantificada, pelo método utilizado;
X – Limite de Quantificação Praticável (LQP): menor concentração de uma substância que pode ser determinada quantitativamente com precisão e exatidão, pelo método utilizado;
XI – Limite de Quantificação da Amostra (LQA): LQP ajustado para as características específicas da amostra analisada;
XII – metas: realizações físicas e atividades de gestão, de acordo com unidades de medida e cronograma preestabelecidos, de caráter obrigatório;
XIII – monitoramento: medição ou verificação de parâmetros de qualidade ou quantidade das águas subterrâneas, em freqüência definida;
XIV – padrão de qualidade: valor limite adotado como requisito normativo de um parâmetro de qualidade de água, estabelecido com base nos valores de referência de qualidade e nos valores máximos permitidos para cada um dos usos preponderantes;
XV – parâmetro de qualidade da água: substâncias ou outros indicadores representativos da qualidade da água;
XVI – remediação: técnica ou conjunto de técnicas utilizadas para a remoção ou atenuação dos contaminantes presentes na água subterrânea;
XVII – teste de toxicidade: testes realizados com organismos específicos (animais, plantas, microrganismos ou culturas de células) sob condições padronizadas que permitem estabelecer os possíveis efeitos adversos da amostra avaliada;
XVIII – usos preponderantes: principais usos das águas subterrâneas que incluem, consumo humano, dessedentação de animais, irrigação e recreação;
XIX – Valor de Referência de Qualidade-VRQ: concentração ou valor de um dado parâmetro que define a qualidade natural da água subterrânea; e
XX – Valor Máximo Permitido-VMP: limite máximo permitido de um dado parâmetro, específico para cada uso da água subterrânea.

CAPÍTULO II
DA CLASSIFICAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Art. 3o As águas subterrâneas são classificadas em:
I – Classe Especial: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses destinadas à preservação de ecossistemas em unidades de conservação de proteção integral e as que contribuam diretamente para os trechos de corpos de água superficial enquadrados como classe especial;
II – Classe 1: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, sem alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que não exigem tratamento para quaisquer usos preponderantes devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;
III – Classe 2: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, sem alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que podem exigir tratamento adequado, dependendo do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;
IV – Classe 3: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, para as quais não é necessário o tratamento em função dessas alterações, mas que podem exigir tratamento adequado, dependendo do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;
V – Classe 4: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, e que somente possam ser utilizadas, sem tratamento, para o uso preponderante menos restritivo; e
VI – Classe 5: águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, que possam estar com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, destinadas a atividades que não têm requisitos de qualidade para uso.

CAPÍTULO III
DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE QUALIDADE DAS ÁGUAS

Art. 4o Os Valores Máximos Permitidos – VMP para o respectivo uso das águas subterrâneas deverão ser observados quando da sua utilização, com ou sem tratamento, independentemente da classe de enquadramento.

Art. 5o As águas subterrâneas da Classe Especial deverão ter suas condições de qualidade naturais mantidas.

Art. 6o Os padrões das Classes 1 a 4 deverão ser estabelecidos com base nos Valores de Referência de Qualidade-VRQ, determinados pelos órgãos competentes, e nos Valores Máximos Permitidos para cada uso preponderante, observados os Limites de Quantificação Praticáveis-LQPs apresentados no Anexo I. Parágrafo único. Os parâmetros que apresentarem VMP para apenas um uso serão válidos para todos os outros usos, enquanto VMPs específicos não forem estabelecidos pelo órgão competente.

Art. 7o As águas subterrâneas de Classe 1 apresentam, para todos os parâmetros, VRQs abaixo ou igual dos Valores Máximos Permitidos mais Restritivos dos usos preponderantes.

Art. 8o As águas subterrâneas de Classe 2 apresentam, em pelo menos um dos parâmetros, Valor de Referência de Qualidade-VRQ superior ao seu respectivo Valor Máximo Permitido mais Restritivo-VMPr+ dos usos preponderantes.

Art. 9o As águas subterrâneas de Classe 3 deverão atender ao Valor Máximo Permitido mais Restritivo-VMPr+ entre os usos preponderantes, para cada um dos parâmetros, exceto quando for condição natural da água. 

Art. 10. As águas subterrâneas de Classe 4 deverão atender aos Valores Máximos Permitidos menos Restritivos-VMPr- entre os usos preponderantes, para cada um dos parâmetros, exceto quando for condição natural da água.

Art. 11. As águas subterrâneas de Classe 5 não terão condições e padrões de qualidade conforme critérios utilizados nesta Resolução.

Art. 12. Os parâmetros a serem selecionados para subsidiar a proposta de enquadramento das águas subterrâneas em classes deverão ser escolhidos em função dos usos preponderantes, das características hidrogeológicas, hidrogeoquímicas, das fontes de poluição e outros critérios técnicos definidos pelo órgão competente. Parágrafo único. Dentre os parâmetros selecionados, deverão ser considerados, no mínimo, Sólidos Totais Dissolvidos, nitrato e coliformes termotolerantes.

Art. 13. Os órgãos competentes deverão monitorar os parâmetros necessários ao acompanhamento da condição de qualidade da água subterrânea, com base naqueles selecionados conforme o artigo 12, bem como pH, turbidez, condutividade elétrica e medição de nível de água.

§ 1o A freqüência inicial do monitoramento deverá ser no mínimo semestral e definida em função das características hidrogeológicas e hidrogeoquímicas dos aqüíferos, das fontes de poluição e dos usos pretendidos, podendo ser reavaliada após um período representativo.

§ 2o Os órgãos competentes deverão realizar, a cada cinco anos, uma caracterização da qualidade da água contemplando todos os parâmetros listados no Anexo I, bem como outros que sejam considerados necessários.

§ 3o Os resultados do monitoramento deverão ser analisados estatisticamente e as incertezas de medição consideradas.

§ 4o A avaliação da qualidade da água subterrânea deverá ser complementada, quando tecnicamente justificado, por meio de testes de toxicidade com organismos apropriados para cada um dos usos ou por análises toxicológicas adequadas.

§ 5o Na hipótese dos estudos referidos no parágrafo anterior tornarem-se necessários em decorrência da atuação de empreendedores identificados, as despesas da investigação correrão às suas expensas.

Art. 14. Independentemente dos valores máximos permitidos para as Classes 3 e 4, qualquer aumento de concentração de contaminantes deverá ser monitorado, sua origem identificada e medidas adequadas de prevenção e controle deverão ser adotadas pelos órgãos competentes.

Art. 15. As amostragens e as análises de água subterrânea e sua interpretação para avaliação da condição de qualidade serão realizadas pelo órgão competente, podendo ser utilizado laboratório próprio, conveniado ou contratado.

Art. 16. As amostragens e análises das águas subterrâneas deverão ser realizadas por laboratórios ou instituições que possuam critérios e procedimentos de qualidade aceitos pelos órgãos responsáveis pelo monitoramento.

Art. 17. Para atendimento desta Resolução, as amostragens, as análises e o controle de qualidade para caracterização e monitoramento das águas subterrâneas deverão adotar os seguintes procedimentos mínimos:
I – as amostras de água subterrânea deverão ser coletadas utilizando métodos padronizados em pontos de amostragem que sejam representativos da área de interesse;
II – no caso da amostragem ser realizada em poços tubulares e de monitoramento, estes deverão ser construídos de acordo com as normas técnicas vigentes;
III – as análises deverão ser realizadas em amostras íntegras, sem filtração ou qualquer outra alteração, a não ser o uso de preservantes que, quando necessários, deverão seguir as normas técnicas vigentes;
IV – as análises mencionadas no inciso III, quando tecnicamente justificado, deverão também ser realizadas na fração dissolvida;
V – as análises físico-químicas deverão ser realizadas utilizando-se métodos padronizados, em laboratórios que atendam aos limites de quantificação praticáveis, listados no Anexo I desta Resolução;
VI – no caso de uma substância ocorrer em concentrações abaixo dos limites de quantificação praticável-LQP, aceitar-se-á o resultado como ausente para fins de atendimento desta Resolução;
VII – no caso do limite de quantificação da amostra-LQA ser maior do que o limite de quantificação praticável-LQP, este também será aceito para atendimento desta Resolução, desde que tecnicamente justificado; e
VIII – no caso de a substância ser identificada na amostra entre o LDM e o LQA, o fato deverá ser reportado no laudo analítico com a nota de que a concentração não pode ser determinada com confiabilidade, não se configurando, neste caso, não conformidade em relação aos VMPs definidos para cada classe.

Art. 18. Os resultados das análises deverão ser reportados em laudos analíticos contendo, no mínimo:
I – identificação do local da amostragem, data e horário de coleta entrada da amostra no laboratório, anexando a cadeia de custódia;
II – indicação do método de análises utilizado para cada parâmetro analisado;
III – limites de quantificação praticados pelo laboratório e da amostra, quando for o caso, para cada parâmetro analisado;
IV – resultados dos brancos do método e “surrogates” (rastreadores);
V – incertezas de medição para cada parâmetro; e
VI – ensaios de adição e recuperação dos analitos na matriz (spike).

Parágrafo único. Outros documentos, tais como cartas controle, cromatogramas e resultados obtidos em ensaios de proficiência, poderão ser solicitados a qualquer tempo pelo órgão ambiental competente.

Art. 19. Os órgãos competentes poderão acrescentar outras condições e padrões de qualidade para as águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses ou torná-los mais restritivos, tendo em vista as condições locais, mediante fundamentação técnica, bem como estabelecer restrições e medidas adicionais, de caráte

r excepcional e temporário.

CAPÍTULO IV
DAS DIRETRIZES AMBIENTAIS PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Art. 20. Os órgãos ambientais em conjunto com os órgãos gestores dos recursos hídricos deverão promover a implementação de Áreas de Proteção de Aqüíferos e Perímetros de Proteção de Poços de Abastecimento, objetivando a proteção da qualidade da água subterrânea. 

Art. 21. Os órgãos ambientais, em conjunto com os órgãos gestores dos recursos hídricos e da saúde, deverão promover a implementação de Áreas de Restrição e Controle do Uso da Água Subterrânea, em caráter excepcional e temporário, quando, em função da condição da qualidade e quantidade da água subterrânea, houver a necessidade de restringir o uso ou a captação da água para proteção dos aqüíferos, da saúde humana e dos ecossistemas.

Parágrafo único. Os órgãos de gestão dos recursos hídricos, de meio ambiente e de saúde deverão articular-se para definição das restrições e das medidas de controle do uso da água subterrânea.

Art. 22. As restrições e exigências da classe de enquadramento das águas subterrâneas, aprovado pelo conselho de recursos hídricos competente, deverão ser observadas no licenciamento ambiental, no zoneamento econômico-ecológico e na implementação dos demais instrumentos de gestão ambiental.

Art. 23. A recarga artificial e a injeção para contenção de cunha salina em aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses, das Classes 1, 2, 3 e 4, não poderá causar alteração da qualidade das águas subterrâneas que provoque restrição aos usos preponderantes.

Art. 24. A injeção em aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses com o objetivo de remediação deverá ter o controle dos órgãos competentes com o objetivo de alcançar ou manter os padrões de qualidade para os usos preponderantes e prevenir riscos ambientais. Parágrafo único. A injeção a que se refere o caput deste artigo não deverá promover alteração da condição da qualidade dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, adjacentes, sobrejacentes e subjacentes, exceto para sua melhoria.

Art. 25. Nos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses onde ocorrerem injeção ou recarga, conforme especificado nos arts. 21 e 22, deverá ser implantado um programa específico de monitoramento da qualidade da água subterrânea.

Art. 26. Nos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porção desses, em que as águas subterrâneas estão enquadradas em Classe 5, poderá ser admitida a injeção direta, mediante controle dos órgãos competentes, com base em estudos hidrogeológicos apresentados pelo interessado, demonstrando que a injeção não provocará alteração da condição de qualidade em relação ao enquadramento das águas subterrâneas adjacentes, sobrejacentes e subjacentes, por meio de monitoramento.

Art. 27. A aplicação e disposição de efluentes e de resíduos no solo deverão observar os critérios e exigências definidos pelos órgãos competentes e não poderão conferir às águas subterrâneas características em desacordo com o seu enquadramento.

§ 1o A aplicação e a disposição, referidas no caput, não serão permitidas nos casos em que as águas dos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses estejam enquadrados na Classe Especial.

§ 2o A aplicação e a disposição serão precedidas de plano específico e programa de monitoramento da qualidade da água subterrânea a serem aprovados pelo órgão competente.

CAPÍTULO V
DIRETRIZES AMBIENTAIS PARA O ENQUADRAMENTO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Art. 28. O enquadramento das águas subterrâneas dar-se-á de acordo com as normas e procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH e Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, observadas as diretrizes ambientais apresentadas neste Capítulo.

Parágrafo único. De acordo com esta Resolução, o enquadramento das águas subterrâneas nas classes será efetuado com base nos usos preponderantes mais restritivos atuais ou pretendidos, exceto para a Classe 4, para a qual deverá prevalecer o uso menos restritivo.

Art. 29. O enquadramento das águas subterrâneas será realizado por aqüífero, conjunto de aqüíferos ou porções desses, na profundidade onde estão ocorrendo as captações para os usos preponderantes, devendo ser considerados no mínimo:
I – a caracterização hidrogeológica e hidrogeoquímica;
II – a caracterização da vulnerabilidade e dos riscos de poluição;
III – o cadastramento de poços existentes e em operação;
IV – o uso e a ocupação do solo e seu histórico;
V – a viabilidade técnica e econômica do enquadramento;
VI – a localização das fontes potenciais de poluição; e
VII – a qualidade natural e a condição de qualidade das águas subterrâneas.

Art. 30. Nos aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses, em que a condição de qualidade da água subterrânea esteja em desacordo com os padrões exigidos para a classe do seu enquadramento, deverão ser empreendidas ações de controle ambiental para a adequação da qualidade da água à sua respectiva classe, exceto para as substâncias que excedam aos limites estabelecidos devido à sua condição natural.

§ 1o As ações de controle ambiental referidas no caput deverão ser executadas em função das metas do enquadramento, podendo ser fixadas metas progressivas intermediárias.

§ 2o A adequação gradativa da condição da qualidade da água aos padrões exigidos para a classe deverá ser definida levando-se em consideração as tecnologias de remediação disponíveis, a viabilidade econômica, o uso atual e futuro do solo e das águas subterrâneas, devendo ser aprovada pelo órgão ambiental competente.

§ 3o Constatada a impossibilidade da adequação prevista no parágrafo anterior, deverão ser realizados estudos visando o reenquadramento da água subterrânea.

§ 4o Medidas de contenção das águas subterrâneas deverão ser exigidas pelo órgão competente, quando tecnicamente justificado.

Art. 31. Os estudos para enquadramento das águas subterrâneas deverão observar a interconexão hidráulica com as águas superficiais, visando compatibilizar as respectivas propostas de enquadramento.

Art. 32. Ficam estabelecidos como condicionantes para o enquadramento das águas subterrâneas em Classe 5 que as mesmas estejam em aqüíferos, conjunto de aqüíferos ou porções desses, confinados, e que apresentem valores de Sólidos Totais Dissolvidos superiores a 15.000 mg/L.

CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 33. A classe de enquadramento das águas subterrâneas, bem como sua condição de qualidade, deverão ser divulgadas, periodicamente, pelos órgãos competentes por meio de relatórios de qualidade e placas de sinalização nos locais de monitoramento.

Art. 34. Os Valores Máximos Permitidos-VMP e os Limites de Quantificação PraticáveisLQP, constantes no Anexo I, deverão ser reavaliados a cada cinco anos, ou em menor prazo quando tecnicamente justificado. Parágrafo único. Os órgãos competentes gestores podem, a qualquer momento, incluir outros usos da água subterrânea ou substâncias não listadas, desde que tecnicamente justificado, definindo seus respectivos VMP e LQP.

Art. 35. Deverão ser fomentados estudos para definição de Valores Máximos Permitidos que reflitam as condições nacionais, especialmente para dessedentação de animais e irrigação.

Art. 36. Nas regiões onde houver ocorrência de elementos radioativos, os órgãos competentes deverão caracterizar radioquimicamente as águas subterrâneas.

Art. 37. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

MARINA SILVA – Presidente do Conselho

Este texto não substitui o publicado no DOU, de 7 de abril de 2008

 

ANEXO I

O Anexo I apresenta lista de parâmetros com maior probabilidade de ocorrência em águas subterrâneas, seus respectivos Valores Máximos Permitidos (VMP) para cada um dos usos considerados como preponderantes e os limites de quantificação praticáveis (LQP), considerados como aceitáveis para aplicação desta Resolução.

 

Parâmetros  Nº CAS Usos Preponderantes da Água LQP Praticável Consumo – LQP
    Consumo – LQP Humano Dessedentação de animais Irrigação Recreação
Inorgânicos  µg.L-1
Alumínio 7429-90-5 200 (1) 5.000 5.000 200 50
Antimônio  7440-36-0 5       5
Arsênio  7440-38-2 10  200   50 8
Bário 7440-39-3 700      1.000 20
Berílio  7440-41-7 4 100 100   4
Bóro  7440-42-8 500 (2) 5.000 500 (4) 1.000 200
Cádmio 7440-43-9 5 50 10 5 5
Chumbo 7439-92-1 10 100 5.000 50 10
Cianeto 57-12-5 70     100 50
Cloreto 16887-00-6 250.000 (1)   100.000 – 700.000 400.000 2000
Cobalto 7440-48-4   1.000 50   10
Cobre 7440-50-8 2.000 500 200 1.000 50
Crômio
(Cr III + Cr VI)
Cr III (16065831) Cr VI (18540299) 50 1.000 100 50 10
Ferro  7439-89-6 300 (1)   5.000 300 100
Fluoreto 7782-41-4 1.500 2.000 1.000   500
Lítio 7439-93-2     2.500   100
Manganês 7439-96-5 100 (1) 50 200 100 25
Mercúrio 1 7439-97-6 1 10 2 1 1
Molibdênio 7439-98-7 70 150 10   10
Níquel 7440-02-0 20 (3) 1.000 200 100 10
Nitrato
(expresso em N)
14797-55-8 10.000 90.000   10.000 300
Nitrito
(expresso em N) 
14797-65-0 1.000 10.000

 1.000

1.000 20
Prata 7440-22-4 100     50 10
Selênio 7782-49-2 10 50 20 10 10
Sódio 7440-23-5 200.000 (1)     300.000 1000
Sólidos Totais Dissolvidos (STD)   1.000.000 (1)       2000
Sulfato   250.000 (1) 1.000.000   400.000 5.000
Urânio 7440-61-1 15 (2,3) 200 10 (4)     
100 (5)   50        
Vanádio 7440-62-2 5.000 (1) 24.000 2.000 5.000 100
Zinco            
Orgânicos µg.L-1
Acrilamida 79-06-1 0,5       0,15
Benzeno 71-43-2 5     10 2
Benzo antraceno 56-55-3 0,05       0,15
Benzo fluoranteno 205-99-2 0,05       0,15
Benzo(k)fluoranteno 207-08-9 0,05       0,15
Benzo pireno 50-32-8 0,05   0,01   0,15
Cloreto de vinila 75-01-4 5       2
Clorofórmio 67-66-3 200 100     5
Criseno 218-01-9 0,05       0,15
1,2-Diclorobenzeno 95-50-1 1.000 (1)       5
1,4-Diclorobenzeno 106-46-7 300 (1)       5
1,2-Dicloroetano  107-06-2 10 5 10   5
Orgânicos µg.L-1
1,1-Dicloroeteno 75-35-4 30     0,3 5
1,2-Dicloroeteno             
(cis + trans) cis (156-59-2)          
trans (156-60-5) 50       5 para cada  
Dibenzo antraceno 53-70-3 0,05       0,15
Diclorometano 75-09-2 20 50     10
Estireno 100-42-5 20       5
Etilbenzeno 100-41-4 200 (1)       5
Fenóis (10)   3 2 2   10
Indeno(1,2,3)pireno 193-39-005 0,05       0,15
PCBs (somatória de 7) (9) (9) 0,5     0,1 0,01 para cada
Tetracloreto de carbono 56-23-5 2 5   3 2
Triclorobenzenos (1,2,4-TCB + 1,3,5- TCB + 1,2,3) 1,2,4-TCB(120- 82-1); 1,3,5- TCB(108-70-3) 1,2,3-TCB(87- 61-6) 20       5 para cada
Tetracloroeteno 127-18-4 40     10 5
1,1,2Tricloroeteno 79-01-6 70 50   30 5
Tolueno 108-88-3 170 (*)       5
Xileno Total (o+m+p) m (108-38-3);
o (95-47-6); p (106-42-3)
300 (*)       5 para cada 
Agrotóxicos µg.L-1
Alaclor  15972-60-8 20     3 0,1
Aldicarb + ald. sulfona + ald. sulfóxido Aldicarb (116-06-3), ald. sulfona (1646-88-4) e ald. sulfóxido (1646-87-3) 10 11 54,9   3 para cada
Aldrin + Dieldrin Aldrin (309- 00-2) Dieldrin (60-57-1) 0,03     1 0,005 para cada
Atrazina  1912-24-9 2 5 10   0,5
Bentazona 25057-89-0 300     400 30
Carbofuran 1563-66-2 7 45   30 5
Clordano
(cis + trans)
cis (5103-71-9) e trans (5103-74-2) 0,2     6 0,01 para cada
Clorotalonil 1897-45-6 30 170 5,8   0,1
Clorpirifós 2921-88-2 30 24   2 2
2,4-D 94-75-7 30     100 2
DDT (p,p’- DDT + p,p’-DDE + p,p’- DDD)  p,p’-DDT (50- 29-3) p,p’-DDE (72-55-9) p,p’- DDD (72-54-8) 2     3 0,01 para cada
Endosulfan ( I + II + sulfato) I (959-98-8)          
 II (33213-65-9) sulfato (1031-07-8) 20     40 0,02 para cada  
Endrin 72-20-8 0,6     0,01
Glifosato + Ampa 1071-83-6 500 280 0,13 (6); 0,06 (7); 0,04 (8) 200 30
Heptacloro + heptacloro epóxido Heptacloro (76-44-8);           
Heptacloro epóxido (1024-57-3) 0,03     3 0,01 para cada  
Hexaclorobenzeno 118-74-1 1 0,52     0,01
Lindano (gama-BHC) 58-89-9 2 4   10 0,01
Agrotóxicos µg.L-1
Malation 121-75-5 190       2
Metolacloro 51218-45-2 10 50 28 800 0,1
Metoxicloro  72-43-5 20       0,1
Molinato 2212-67-1 6     1 5
Pendimetalina 40487-42-1 20     600 0,1
Pentaclorofenol  87-86-5 9     10 2
Permetrina 52645-53-1 20     300 10
Propanil 709-98-8 20     1000 10
Simazina 122-34-9 2 10 0,5   1
Trifuralina 1582-09-8 20 45   500 0,1
Microorganismos            
E. coli Ausentes em 100ml 200/100 ml   800/100mL 
Enterococos  100/100mL 
Coliformes termotolerantes  Ausentes em 100ml 200/100 ml 1000/100mL

Legenda

1. Efeito organoléptico. 
2. Máxima concentração de substância na água de irrigação em 100 anos de irrigação (proteção de plantas e outros organismos). 
3. Máxima concentração de substância na água de irrigação em 20 anos de irrigação (proteção de plantas e outros organismos).

4. Taxa de irrigação ≤ 3500 m3/ha 


5. 3500 < Taxa de irrigação ≤ 7000 m3/ha 


6. 7000 < Taxa de irrigação ≤ 12000 m3/ha 


7. PCBs = somatória de PCB 28 (2,4,4’-triclorobifenila – nºCAS 7012-37-5), PCB 52 (2,2’,5,5’- tetraclorobifenila – nº CAS 35693-99-3), PCB 101(2,2’,4,5,5’-Pentaclorobifenila – nºCAS 37680-73-2), PCB 118 (2,3’,4,4’,5-pentaclorobifenila – nºCAS 31508-00-6), PCB 138 (2,2’,3,4,4’,5’-hexaclorobifenila – nº CAS 35056-28-2), PCB 153 (2,2’4,4’,5,5’- hexaclorobifenila – nºCAS 3505-27-1) e PCB 180 (2,2’,3,4,4’,5,5’- heptaclorobifenila – nºCAS 35065-29-3). 


8. Fenóis que reagem com aminoantipirina, válido somente quando ocorre cloração. Os valores máximos permitidos para fenóis previnem a formação de gosto e odor indesejável na água quando da sua cloração. Para o caso de Limites de Quantificação (LQP ou LQA) maior que o valor de interesse análises de perfil de sabor deverão ser realizadas de acordo com métodos analíticos padronizados antes e após a cloração da água. Resultado não objetável indicará atendimento ao padrão de qualidade requerido.

ANEXO II
O Anexo II apresenta um exemplo de estabelecimento de padrões por classe para parâmetros selecionados de acordo com o art. 12, considerando o uso concomitante para consumo humano, dessedentação, irrigação e recreação.

Motivação da inclusão Parâmetros selecionados passíveis de ser de origem natural Padrões por classe – concentração (µg.L-1)
Classes 1 e 2 (VRQ) Classe 3* Classe 4**
Características hidrogeológicas Arsênio Se VRQ <10 Classe 1 10 200
Se VRQ> 10 Classe 2
Ferro Se VRQ <300 Classe 1 300 500
Se VRQ> 300 Classe 2
Chumbo Se VRQ <10 Classe 1 10 5000
Se VRQ> 10 Classe 2
Crômio Se VRQ <50 Classe 1 50 1000
Se VRQ> 50 Classe 2
Motivação da inclusão Parâmetros de origem antrópica Classes 1 e 2 (VRQ) Classe 3 Classe 4
Uso intensivo na região Aldicarb AUSENTE 10 54,9
Carbofuran AUSENTE 7 45
Pentaclorofenol AUSENTE 9 10
Possível influência de Posto de gasolina Benzeno AUSENTE 5 10
Etilbenzeno AUSENTE 200 200
Tolueno AUSENTE 24 24
Xileno AUSENTE 300 300
Parâmetros mínimos obrigatórios Sólidos Totais Dissolvidos Se VRQ<1.000.000 Classe 1 1.000.000 1.000.000
Se VRQ>1.000.000 Classe 2
Coliformes termotolerantes Ausentes em 100 ml Ausentes em 100 ml 4000 em 100ml
Nitrato (expresso em N) Se VRQ<10.000 Classe 1 10.000 90.000

Legenda:
VRQ – valor de referência de qualidade, definido pelos órgãos competentes, de acordo com art. 6o desta Resolução.
*Para a Classe 3, quando o VRQ for superior ao VMPr+ o primeiro será adotado como padrão da classe.
** Para a Classe 4, quando o VRQ for superior ao VMPr- o primeiro será adotado como padrão da classe.

 

 

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