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Professor de física inventa luminária econômica e conquista grandes empresas

André Ferreira, que ainda dá aula em cursinhos e colégios, vira fornecedor de gigantes como Pão de Açúcar e Kraft Foods e comemora faturamento milionário

Pedro Carvalho – iG São Paulo

Nas manhãs de segunda e quarta-feira, André Ferreira ensina física em cursinhos e colégios de São Paulo. “Mas está difícil”, confessa. “Muita demanda na empresa, muita viagem…” Há três anos, o professor usou seus conhecimentos para bolar um sistema de iluminação mais eficiente, que tirava melhor proveito dos espelhos de reflexão das luminárias de teto. Deu tão certo que virou um negócio de faturamento milionário, com clientes como Pão de Açúcar e Kraft Foods. 

 

 

Formado em engenharia elétrica pela USP, André começou a imaginar o negócio em 2008, quando percebeu que a maioria dos engenheiros eletricistas não dava bola para a área de iluminação. “Num projeto, quem acaba cuidando disso é o arquiteto, mas com uma preocupação geralmente estética”, diz. “Mesmo na faculdade, tive muito pouco conteúdo sobre iluminação. As próprias lâmpadas da USP não usam espelho de reflexão e são de baixíssima eficiência”.

Dado o pouco interesse que havia pela área, a inovação criada por André foi simples, do tipo "por que ninguém fez isso antes?". As luminárias que vende têm um espelho de reflexão acima da lâmpada, como as que existem na maioria dos escritórios. A diferença é que ele calcula a curvatura perfeita desse espelho para cada ambiente, além de usar um espelho de melhor qualidade. Parecem detalhes, mas o resultado fez gigantes do varejo e da indústria acharem que o investimento compensaria.

 

 

Greg Salibian/iG

"Na sala de aula, esqueço os problemas da empresa, é uma terapia", diz André

“A gente não vende lâmpadas 'sozinhas', só vende o projeto”, explica. “É muito mais fácil vender lâmpada, o que pode ser feito em grande escala. Nossos projetos são personalizados, quase artesanais”, diz. Isso até pode deixar uma luminária da empresa mais cara que a da concorrência, mas, no fim, o projeto usa menos luminárias – e, assim, pode sair mais barato. Depois de implantado, a economia de energia proporcionada varia de 50% a 80%, segundo o professor empresário.

 

 

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Antes do apagão de 2001, o Brasil praticamente ignorava o uso de espelhos nas luminárias. Naquele mesmo momento de crise energética, a palavra sustentabilidade também passou a fazer parte do cotidiano das empresas. Começaram a aparecer, no mercado nacional, as primeiras luminárias que usavam espelhos para aumentar a eficiência e reduzir o consumo.

 

Em 2008, os espelhos já eram bastante comuns, mas tinham qualidade ruim. “Como antes não havia nada (com espelhos), qualquer coisa era colocada no mercado. Os primeiros modelos usavam papel alumínio”, lembra André. Por isso, uma ideia tão simples como a dele conseguiu emplacar.

Quando viu a brecha, André passou oito meses fazendo testes, ajudado financeiramente pelo pai, Valdir Ferreira, também físico e ex-professor de cursinho – hoje, ele é gestor de mananciais na Secretaria do Verde e Meio Ambiente da prefeitura paulistana. “Ele montou um laboratório estilo Professor Pardal, num sobrado que era do meu pai, no Tatuapé”, diz Valdir, que acabou virando sócio do filho, embora não participe diretamente na gestão.

No final de 2008, ele achou que tinha um produto viável. O primeiro cliente surgiu logo de cara, com uma ajudinha do pai e amigos em comum, que indicaram a novidade. A rede de supermercados Ricoy, que tem mais de 90 lojas, topou equipar uma delas – no bairro do Grajaú – com as luminárias econômicas. A Luminae, como foi batizada a empresa de André, tinha saído do papel naquele mês e fazia ali uma venda de R$ 100 mil. A loja do Grajaú passou a economizar 65% de energia. Hoje, o professor já equipou 20 endereços do grupo.

O ano de 2009 terminou com 15 supermercados na carteira de clientes. Um varejista indicava a luminária para o outro e a empresa crescia. André ainda não investia em marketing e divulgação, porque tinha medo que roubassem a ideia. “Estamos colocando a cabeça para fora agora”, diz Valmir.

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Em 2010, ganharam a concorrência para iluminar a fábrica que a Kraft Foods construiu em Recife, o que significou vender 2,4 mil luminárias de uma vez e faturar R$ 430 mil. “Resolvi marcar uma reunião com o diretor de engenharia da marca, para apresentar um projeto. Não tínhamos experiência em indústrias, e eu sabia que a proposta da Phillips estava quase aceita por eles”, diz André. O argumento que virou o jogo é simples: o concorrente consumiria 16 W/m2, enquanto eles usariam 6 W/m2.

“A Kraft estava de olho no selo Green Building, um certificado de sustentabilidade. Resolveu apostar em nós. Deu tão certo que, no ano seguinte, fomos contratados para fazer a segunda fábrica deles em Recife”, diz o empresário. O ano terminou com outros clientes de peso na carteira, como o SENAI e a Kalunga. A empresa contava 18 funcionários.

Em 2011, a história de Davi contra Golias aconteceu numa concorrência do Pão de Açúcar. A empresa já tinha experiência em supermercados médios. Mas os concorrentes ao contrato – entre eles, a Phillips – eram bem maiores, quase todas com pelo menos 800 funcionários, segundo o empresário. “No total, a concorrência era para fazer 60 lojas. Acabamos ficando com 32, entre Pão de Açúcar e Extra”, diz André.

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Em cada salto, houve a típica dor de crescimento empresarial. "Foi muita correria, necessidade de contratar trabalhadores temporários”, lembra. “Tínhamos que comprar os insumos primeiro para receber depois, chegamos a usar até cheque especial, pagando 10% de juros ao mês.”

Ainda em 2011, a empresa aumentou a presença em outros estados e setores, como escolas e até igrejas. Fecharam o ano com 192 projetos e faturamento próximo a R$ 8 milhões. No primeiro semestre deste ano, as vendas cresceram 150%. Mais de 80 redes de supermercado já viraram clientes. Outros compradores de peso, como o Bradesco e a P&G, estão “muito bem encaminhado”, segundo pai e filho. Também acabam de alugar o galpão do imóvel vizinho, para expandir a capacidade.

E, feito tudo isso, André ainda reserva tempo para ensinar fórmulas, leis e teoremas da física, ciência que deu a ele as bases de um negócio promissor. “Faço mais porque eu gosto. Na sala de aula, esqueço os problemas da empresa, é como uma terapia”, explica. “Não sei até quando vou conseguir manter isso, mas vou tentar até o limite.”

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