Foto: Réserve Zoologique de la Haute-Touche
Espécie exótica foi introduzida na Argentina e Uruguai em fazendas de caça por volta de 1930; o Cervo Axis já foi registrado em todos os estados do Sul do Brasil
Não é só com o javali e suas cruzas que o produtor rural brasileiro deverá se preocupar nos próximos anos. Uma nova espécie exótica pode se tornar numerosa no país, estamos falando do cervo da espécie Axis Axis, conhecido popularmente como Chital, apesar se ser nativo das florestas da Índia, Sri Lanka, Nepal, Bangladesh, Butão e Paquistão, chegou no sul Brasil.
O animal chegou ao Brasil vindo do Uruguai e Argentina, os animais foram introduzidos em fazendas de caça no início do século passado. “Em 1930 esse cervo foi introduzido na Argentina e no Uruguai, porque é um animal muito atrativo para a caça, já que é grande e possui uma galhada bem expressiva. Com o passar dos anos alguns indivíduos migraram para o Brasil e chegaram, em 2009, no Parque Estadual do Espinilho, no Rio Grande do Sul”, conta o pesquisador Márcio Leite de Oliveira da UNESP. Só neste parque foram contabilizados mais de 100 unidades.
Foto: Divulgação
Problema na Argentina
A província de Corrientes, que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, declarou em 2023 a espécie como uma praga a ser controlada e permitindo a caça seletiva. A iniciativa visa impedir a sua proliferação e proteger os ecossistemas locais.
“Hoje o Cervo Axis é encontrado em mais de 10 províncias, invadindo parques e áreas protegidas, causando inúmeros danos ao ecossistema, e competindo por pasto e alimento com cervos nativos como o veado-campeiro, o cervo-do-pantanal e o gado do lugar”, acrescenta o projeto de lei provincial, cujo autor é o senador de Corrientes, Sergio Flinta, considerando que “como acontece com outras espécies de fauna exótica, pragas declaradas e invasoras como o javali, hoje devemos tomar consciência de que “corretamente controlado e a caça legislada destas espécies é a única ferramenta que temos para evitar que continuem a espalhar-se e a gerar os danos indicados.”
Gustavo Solís, veterinário da Fundação Rewilding Argentina, expressou sua preocupação com o recente aparecimento de uma manada de veados na zona urbana de Goya, Corrientes. Nas suas declarações, Solís destacou que a província de Entre Ríos foi a primeira a enfrentar este problema, com o crescimento excessivo desta espécie invasora.
“As medidas tomadas até agora não foram suficientes para travar a expansão desta espécie invasora”, alertou Solís. “É preciso lembrar que é uma espécie que vem da Índia, seu predador natural é o tigre de Bengala e ele chegou aqui, encontrou a temperatura ideal, não tem predadores naturais e se reproduziu de forma impressionante”, acrescentou.
Solís detalhou os problemas que esses cervos podem causar à fauna local e aos ambientes urbanos. Além de serem potenciais transmissores de doenças, competem com a fauna nativa e podem deslocar cervos locais. Eles se movem em grandes rebanhos, o que aumenta o risco de acidentes rodoviários e ataques a pessoas.
Foto: Divulgação
Espécie tem potencial de virar uma praga no Brasil?
Esses grandes mamíferos cujo macho chega a pesar 110 quilos e medir um metro e dez centímetros na altura da cernelha podem ter ultrapassado a fronteira por terra, como também por água, já que são exímios nadadores. São herbívoros e não têm predadores por aqui.
“Quando uma espécie exótica invade um território novo e consegue sobreviver ela passa por uma fase de adaptação. Aos poucos as populações vão se formando e os bichos se estabelecendo, o que demora certo período de tempo. Depois, gradativamente, os grupos aumentam e os animais começam a se espalhar”, comenta o pesquisador da UNESP.
Vinte e três anos depois do primeiro registro do Chital no Brasil, o cervo continua mais expressivo no próprio Parque Estadual do Espinilho, mas já foi avistado em áreas urbanas e praias do estado gaúcho, como também no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, e em Santa Catarina.
A presença de uma espécie exótica traz diversos problemas que precisam ser monitorados e acompanhados ao longo do tempo. “São inúmeros impactos que podemos prever através de hipóteses, já que ainda não há estudos com a espécie no Brasil. Mas, de um ponto de vista ecológico, o chital pode competir com o veado-campeiro (espécie nativa), assim como alterar a composição vegetal e do ambiente como um todo”, diz.
Apesar da baixa densidade desse cervo, a presença do animal em áreas urbanas também gera riscos de acidentes de trânsito. Três atropelamentos já foram registrados com a espécie em rodovias.
“É uma espécie exótica que não pertence ao Brasil e que não deveria estar aqui. Não queremos que esse cervo seja visto com um bicho de estimação, ao mesmo tempo que também não queremos que todo mundo pegue armas para caçar”, alerta Oliveira.
Foto: Bruno Neka dal Pont/Arquivo Pessoal
Rio Grande do Sul regulamenta caça
Em 2022, o Estado do Rio Grande do Sul libera caça do cervo Chital para controle da população da espécie. O tamanho da população ainda não é alarmante, mas por recomendação do Grupo de Assessoramento Técnico do Programa Estadual de Controle de Espécies Exóticas Invasoras do Rio Grande do Sul, o governo do estado decidiu permitir a caça do Chital dentro de unidades de conservação no estado, mas apenas à pessoas que realizarem um cadastro junto à Divisão de Unidades de Conservação (DUC).
A decisão foi divulgada oficialmente através da portaria 109/2022, publicada no Diário Oficial pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura no dia 14 de junho de 2022.
O texto da portaria determina ainda que, mesmo quando o animal for encontrado em propriedades particulares, será necessário ter autorização oficial para abatê-lo, assim como acontece com o javali. Atualmente, no Brasil, somente está liberada a caça de controle a uma espécie animal exótica e invasora, o javali-europeu (Sus scrofa) e a seu híbrido, o porco-doméstico (javaporco).
Os especialistas temem que a espécie invasora possa competir com o veado-campeiro, nativo do país, e alterar a composição vegetal e do ambiente como um todo.
Fonte: www.comprerural.com
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