Por Ênio Fonseca
As atividades de mineração e siderurgia associadas são extremamente importantes para a economia brasileira. Além disso, elas geram empregos, taxas e impostos, contribuindo com importantes iniciativas de proteção ambiental.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a produção total do setor mineral brasileiro alcançou, em 2021, 1,150 bilhão de toneladas, mostrando aumento de 7% sobre as 1,073 bilhão de toneladas de 2020. O minério de ferro respondeu por 74% do faturamento global do setor, em 2021, contra 66%, em 2020.
Ainda de acordo com o Instituto, o minério de ferro é uma das principais commodities do mundo, e o Brasil é um dos maiores produtores mundiais, sendo que deste minério foram exportados em 2022, 344,1 milhões de toneladas , gerando uma receita de R$ 153,5 bilhões, equivalente a 61% da receita total de minerais exportados.
As exportações minerais brasileiras diminuíram, entre 2021 e 2022, passando de US$57,80 bilhões para US$ 41,67 bilhões (uma diminuição de -27,9%). Em 2023 as perspectivas indicam estabilidade em relação aos resultados de 2022
Dos oito minérios mais exportados pelo Brasil, a China aparece entre os principais compradores para sete deles, sendo o principal comprador para minério de ferro, manganês e nióbio, é o segundo maior para cobre e pedras naturais e revestimentos ornamentais e o quarto maior para alumínio; quinto maior para caulim.
Em 2022, a Mineração e Transformação Mineral geraram mais de 800 mil empregos diretos e cerca de 2 milhões indiretos, tendo sido responsáveis por 3% do PIB do Brasil.
O setor mineral aumentará investimentos para US$ 50 bi até 2027, principalmente os socioambientais que passarão de US$ 4,2 bilhões para US$ 6,5 bilhões em cinco anos.
Dos investimentos da mineração o maior volume será direcionado ao minério de ferro: US$ 17 bilhões, ou 24% a mais do que no período anterior; o cobre receberá US$ 4,5 bilhões; o níquel receberá US$ 2,3 bilhões. – A maior parte dos investimentos estão projetados para os estados do Pará, Minas Gerais e Bahia (somados, totalizam 82%)
O faturamento da indústria mineral caiu de R$ 339 bilhões para R$ 250 bilhões em 2022 – uma queda de 26%. – Os maiores estados produtores de minérios do Brasil, Minas Gerais e Pará, observaram queda no faturamento de 30% (de R$ 143 bilhões para R$ 100,5 bilhões) e de 37% (de R$ 146,6 bilhões para R$ 92,4 bilhões), respectivamente.
Por estados, os maiores faturamentos foram observados no Pará, com R$ 146,6 bilhões (+51%); Minas Gerais, R$ 143 bilhões (+87%); e Bahia, R$ 9,5 bilhões (+67%)1. A participação do Pará no faturamento global caiu de 46%, em 2020, para 43%, em 2021, enquanto a de Minas Gerais subiu de 37% para 42%, no mesmo período.
Em 2022 o setor recolheu R$ 86,2 bilhões em tributos e encargos. Desse recolhimento, R$ 7 bilhões foram para a CFEM, sendo que o minério de ferro contribuiu com R$ 5,3 bi desse total.
Os municípios mineradores somam 2.699, sendo que temos uma variação de 91 tipos minerais extraídos, 7.300 empresas e microempreendedores extratores, sendo que aqueles que mais arrecadam royalties da mineração estão em Minas Gerais e Pará, sendo que estes municípios mineradores apresentaram IDH maior que outros municípios da mesma região.
No entanto, quando comparamos o Brasil com os principais países produtores, no quesito produção de minério de ferro, observamos que ao longo dos anos a nossa produção se mantém em patamares constantes, enquanto que, em alguns países concorrentes, como a Austrália, ela disparou.
COMPARATIVOS DE PRODUÇÃO FERRO / MUNDO
VALORES EM MILHÕES DE TONELADAS
Nome |
2007 |
2012 |
2022 |
% 2007 – 2021 |
Austrália |
40 |
521 |
900 |
2.150% |
Brasil |
355 |
398 |
380 |
7% |
China |
600 |
1.310 |
360 |
-40% |
Índia |
140 |
144 |
240 |
71% |
Rússia |
97 |
105 |
100 |
3% |
Ucrânia |
69 |
82 |
81 |
17% |
Canadá |
30 |
39 |
68 |
127% |
África do Sul |
40 |
63 |
61 |
53% |
Fonte: adaptado de relatório da Western Australia iron ore profile-March 2023
Observando a importância que a produção de minério tem para o Brasil, os números robustos que ele representa na matriz de exportação, sua grande utilização na produção de inúmeros produtos utilizados pela sociedade diariamente, como na construção civil, veículos diversos e equipamentos de toda serventia, cabe uma reflexão. Porque nossa produção se mantém nos mesmos patamares a mais de 15 anos? Porque a Austrália neste mesmo período aumentou sua produção em 2.150%? O Canadá, neste período, incrementou sua produção em 127%. E a índia, como conseguiu aumentar sua produção em 71%? E a África do Sul que cresceu 53%?
Quando observamos a produção mundial de aço, uma das mais nobres transformações que o minério de ferro pode ter, observamos na figura abaixo, também um crescimento da produção mundial, que passa de 1.563 milhões de toneladas para 1.885 em 2022, e neste segmento o Brasil tem representatividade desprezível.
Fonte Word Steel
A produção global de aço bruto caiu 4,2% em todo o ano passado, a 1,878 bilhão de toneladas, afirmou a Worldsteel, entidade sem fins lucrativos sediada em Bruxelas, na Bélgica, conforme o site clique aqui para acessar. A entidade faz seu levantamento a partir dos 64 países que reportam seus resultados e que eles representavam aproximadamente 98% da produção total de aço
Líder do ranking global de produção de aço, a China teve recuo de 2,1% na sua produção em 2022 ante 2021. Já a Índia, segunda colocada, teve crescimento de 5,5% na mesma comparação anual. No Japão, terceiro colocado, houve queda de 7,4%, e nos Estados Unidos, que vem na sequência na lista, a baixa foi de 5,9% em 2022 ante 2021.
A Rússia é a quinta maior produtora global de aço no levantamento, seguida por Coreia do Sul, Alemanha, Turquia, Brasil seguido pela Irã e Itália.
O consumo aparente de aço no Brasil atingiu 23,3 milhões de toneladas em 2022, e as vendas internas chegaram a 20,2 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Aço Brasil, no site clique aqui para acessar.
Para 2023, a previsão do Aço Brasil para a indústria do aço é de crescimento de 1,9% nas vendas internas e 1,5% no consumo aparente, sendo que a produção de aço bruto deverá crescer 2%. Para as exportações, é previsto avanço de 2,1% e, para as importações, de 2,3%.
Representada por 15 empresas privadas, controladas por onze grupos empresariais e operando 31 usinas distribuídas por 10 estados brasileiros, a indústria do aço no Brasil foi responsável pela produção, em 2022, de 34,1 milhões de toneladas de aço bruto, levando o país a ocupar apenas a 9ª posição no ranking da produção mundial.
Merece destaque no País a crescente produção do aço verde, que consome minério de ferro e carvão vegetal em sua produção.
A indústria brasileira do aço conseguiu retomar a sua capacidade parada e a produção voltou ao patamar pré-pandemia.
Por que o setor tem enfrentado dificuldades para aumentar a produção nacional e aumentar sua posição no ranking mundial?
Considerações finais
Com certeza o Brasil possui significativas reservas de minério de ferro, capazes de ampliar significativamente sua produção, dominando a mesma tecnologia de exploração dos países líderes.
Da mesma forma, as empresas que produzem aço dominam as melhores tecnologias, adotadas nos países que mais produzem aço no mundo.
Os números da balança comercial para o minério de ferro, vendido enquanto commodity, mostram que o país é competitivo no comércio internacional.
E a mineração e a siderurgia do aço, brasileiras, vem incorporando cada vez mais os princípios ESG em seus processos.
Nosso gargalo estaria na falta de capital para alavancar o aumento da produção? Estaria na falta de infraestrutura de transporte, na rigorosa legislação ambiental, tributária, trabalhista e aduaneira? Estaria no custo final dos produtos, ou numa visão reativa da sociedade para com toda a cadeia produtiva da mineração?
Faltariam novas políticas públicas setoriais para alavancar a produção?
Ficam aqui estas reflexões.
Ênio Fonseca – Engenheiro Florestal, Senior Advisor em questões socioambientais , Especialização em Proteção Florestal pelo NARTC e CONAF-Chile, em Engenharia Ambiental pelo IETEC-MG, , em Liderança em Gestão pela FDC, em Educação Ambiental pela UNB, MBA em Gestão de Florestas pelo IBAPE, em Gestão Empresarial pela FGV, Conselheiro do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, FMASE, foi Superintendente do IBAMA em MG, Superintendente de Gestão Ambiental do Grupo Cemig, Chefe do Departamento de Fiscalização e Controle Florestal do IEF, Conselheiro no Conselho de Política Ambiental do Estado de MG, Ex Presidente FMASE, founder da PACK OF WOLVES Assessoria Ambiental, parceiro da Econservation, Gestor Sustentabilidade Associação Mineradores de Ferro do Brasil.
Gostou do conteúdo? Então siga-nos no Facebook, Instagram e acompanhe o nosso blog! ! Para receber notícias ambientais em seu celular, clique aqui.
Leia também: