PEDRO SOARES, do Rio. Folha de SP.
As cidades latino-americanas não concentram apenas a maioria da população: dois terços do PIB da região provém de áreas urbanas. As 40 maiores cidades produzem um PIB anual de US$ 842 bilhões, mas há uma tendência de desconcentração da geração de riqueza para cidades menores, de acordo com o relatório "Estado das Cidades da América Latina e Caribe-2012", apresentado pela agência ONU-Habitat nesta terça-feira.
Segundo o relatório, megacidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Cidade de México perdem terreno na economia da região e têm registrado menor dinamismo do que outros centros urbanos de porte menor. Cidades do interior também mostram um desempenho melhor, em muitos casos.
O peso da América Latina na economia global, porém, pouco avançou: em 1970, sua contribuição era de 6,5%; atualmente, situa-se em 7%, abaixo da participação de 8,5% da população da região no mundo.
Dentro da região, a distribuição também é desigual. A repartição do PIB é a seguinte: 32% da geração de riqueza corresponde ao Brasil, 25% ao México, 21% aos países do Cone Sul, 16% aos do arco andino-equatorial, 5% à América Central e 1% ao Caribe. A participação do Brasil é proporcional ao peso demográfico; México e Cone Sul aportam mais à produção que sua cota na população. As demais subrregiões têm peso inferior.
De 1970 para cá, o Brasil ganhou espaço no PIB da América Latina (8 pontos percentuais); o Cone Sul, sobretudo Argentina, foi a área que mais perdeu.
O menor crescimento da produtividade (volume de produção gerada por trabalhador a cada hora destinada à produção) é a principal razão para o crescimento menor do PIB latino-americano do que em outros regiões e países emergentes, segundo o relatório.
Em 20 anos, a produtividade na América Latina cresceu 1,4% ao ano, em média. Na China, o incremento foi de 8,4%. Na Índia, chegou a 4,7%.
Segundo o relatório, 70% da população urbana ocupada da América Latina trabalha no setor de serviços, 24% na indústria e só 6% na agropecuária (concentrados nas cidades com menos de 20 mil pessoas). Cresceu em sete pontos percentuais de 1990 a 2009 a participação das mulheres na força de trabalho, chegando a 43% na região.
A ONU diz que a "emergência de novos polos econômicos e configurações urbanas, com intervenção das cidades, ampliam as possibilidades de desenvolvimento socioeconômico". Mas tal realidade, pondera, também "implica em risco de criar novas e maiores disparidades sociais e territoriais". Para mitigar o risco, diz, são necessárias políticas mais inclusivas.
POBREZA
Em toda a América Latina, 180 milhões de habitantes da região (ou 33%) viviam em condições de pobreza. Desses, 71 milhões eram indigentes (13%), segundo dados de 2009. O percentual de pobreza era maior em 1990: 48%. Aproximadamente 124 milhões de habitantes de cidades estavam em condição de pobreza _ou um de cada quatro.
Há, mais uma vez, uma grande disparidade regional. Enquanto países como Argentina, Chile e Uruguai tinham baixas taxas de pobreza (inferior a 12% da população), mais da metade dos habitantes de Bolívia, Guatemala e Paraguai eram pobres _em Nicarágua e Honduras, a taxa superava os 60%. No Brasil, estava em 22%.
Para além da pobreza, o principal problema que a América Latina enfrenta, diz a ONU, é a desigualdade. "A região é considerada a mais desigual do mundo." Na região, 20% da população mais rica possuía uma renda per capita 20 vezes superior à renda dos 20% mais pobres. Em 2009, a renda per capita média dos países latino-americanos era de US$ 4.823, abaixo da média mundial, de US$ 5.868.