A frota das 12 principais capitais do Brasil, incluindo Curitiba, praticamente dobrou em dez anos. O crescimento médio no número de veículos foi de 77%, sem que a infraestrutura viária e os órgãos de controle do trânsito acompanhassem o ritmo. Em São Paulo, a metrópole que mais ganhou carros em números absolutos, as ruas receberam 3,4 milhões entre 2001 e 2011. As 12 principais metrópoles somam 20 milhões de veículos, o que corresponde a 44% da frota nacional. A conta é do Observatório das Metrópoles e usa dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Segundo o elaborador do estudo, o pesquisador Juciano Martins Rodrigues, foram analisadas informações de 253 municípios. “Usamos os critérios do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] para selecionar as capitais que formavam regiões metropolitanas”, afirma. São Paulo e Rio, capitais que já tinham as maiores frotas de carros do país, ficam nas últimas posições do ranking elaborado pelo estudo – que classifica o crescimento de frota de acordo com o crescimento relativo, ou seja, pelo porcentual de aumento do número de carros. O Rio é o lanterna: crescimento de 67%, embora isso signifique acréscimo de 1 milhão de carros no período. Já São Paulo teve crescimento populacional de 7,9% na década, segundo dados da Fundação Seade – e o porcentual de aumento de carros foi de 68,2%. Com o critério porcentual, a região metropolitana de Manaus é a campeã. O aumento da frota foi de 141,9%. Já na Grande Curitiba, a alta foi de 91,7% — a região ficou em 7.º lugar no ranking. Fenômeno – O crescimento da frota de veículos é um fenômeno que vem sendo notado há alguns anos, mas ainda não havia sido analisado como o Observatório das Metrópoles fez. Para especialistas e autoridades, o avanço resulta de três fatores: aumento da renda da população (especialmente da classe C), reduções fiscais do governo federal e facilidades de crédito promovidas pelos bancos. O aposentado Pedro Manzoni, 73 anos, é um exemplo. Dono de um Corsa zero quilômetro, diz trocar de carro a cada vez que o veículo atinge 20 mil quilômetros rodados. Total de motos triplicou na última década – O estudo do Observatório das Metrópoles mostra que o aumento da frota de motocicletas foi ainda maior do que o de carros. Embora a média tenha ficado em 289% de crescimento na década, segundo o estudo, há regiões metropolitanas do país em que a frota foi multiplicada por oito: crescimento de 708%, como no caso de Belém (PA). Na década, foram emplacadas 3,1 milhões de motos nas 12 principais metrópoles brasileiras. Na Grande Curitiba, o crescimento foi de 273,4%. A grande diferença, de acordo com o levantamento, é que a maior parte das motos que circulam no Brasil não está nas grandes cidades: 76% delas ficam nos municípios com populações pequenas ou médias. Entre os carros, 44% da frota está nas 12 regiões metropolitanas avaliadas. Com o aumento da proporção de motos nas pequenas e médias cidades, cresce a concentração de mortes com esse tipo de veículo. Segundo o Ministério da Saúde, 65 mil pessoas morreram em acidentes de moto na década passada – e os maiores índices de casos por habitante estão nas pequenas cidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Irregularidade – Entretanto, São Paulo, que teve aumento de 260% do número de motos e responde pela maior frota do país, com 1,4 milhão de veículos, registrou só no ano passado crescimento de 7,1% nas mortes de motociclistas – foram 512 ocorrências registradas na capital paulista. Em Belém, parte do crescimento da frota de motos pode ser explicada pelo uso desses veículos para o transporte de passageiros. Mas, na avaliação do coordenador da Central de Planejamento do Detran do Pará, Carlos Valente, isso acabou revelando um problema: muitos mototaxistas trabalham sem habilitação e com o veículo irregular. Cerca de 2 mil mototaxistas estão cadastrados na capital. O número de clandestinos, porém, pode ser até oito vezes maior. O crescimento da frota de motos no Pará não dá sinais de enfraquecimento. No estado, em 2011, foram registradas 65 mil motos. O estado é dono da maior frota de motos do Norte, com quase meio milhão de veículos. Deslocamento – “Não há mais como calcular a viagem”,diz usuário de ônibus. O trânsito nas capitais prejudica também quem usa o transporte público. Quando começou a trabalhar no centro do Rio de Janeiro, em 2001, o bancário Jerônimo de Castro, de 53 anos, fazia o trajeto entre casa e trabalho de ônibus. Gastava 50 minutos. Conforme o trânsito foi piorando, passou a buscar alternativas e, atualmente, a viagem mais rápida demora 1h20 – ele pega ônibus, trem e metrô. “Se eu pegasse o mesmo ônibus, levaria mais de duas horas para chegar”, conta. Além do cansaço da baldeação, tem o custo. Castro gasta R$ 14, ida e volta. O ônibus direto sairia por R$ 5,50. “O trânsito mudou muito. Você não sabe mais calcular quanto tempo vai levar. E mesmo pegar trem e metrô é uma aventura. Toda hora tem um acidente, um atraso.” O mesmo acontece em Salvador. Sem alternativas de transporte sobre trilhos – o metrô, de apenas seis quilômetros, está sendo construído há 12 anos –, com uma rede pequena de ciclovias, um sistema de ônibus coletivos considerado desconfortável e caro e sem grandes investimentos no sistema viário, o trânsito da capital mais populosa do Nordeste “travou” nos últimos anos. Segundo dados da Superintendência de Trânsito e Transporte da cidade (Transalvador), a via mais movimentada da capital, a Avenida Paralela, de 16 quilômetros, tinha volume médio diário de 87 mil veículos. Hoje, esse número saltou para 125 mil carros por dia. Nos horários de pico, a velocidade média se aproxima de zero nas extremidades da via, cujo limite é de 80 km/h.
Fonte: Gazeta do Povo – PR |