quinta-feira , 28 março 2024
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A necessidade de uma educação voltada para a sustentabilidade nos ambientes corporativos e empresariais

por Alexandre Waltrick Rates.

 

O atual cenário de degradação ambiental desenfreada causado por um crescimento econômico insustentável, somado a crises políticas, intolerâncias religiosas, falta de ética nas organizações, entre tantos outros males da modernidade, tem levado indivíduos, pesquisadores, educadores, governos e organizações a crer que a educação voltada para a sustentabilidade deve ocupar um lugar central na vida econômica e social das corporações e empresas, pois esta tem sido considerada a propulsora de mudanças que poderão alterar positivamente o futuro ambiental, social e econômico do planeta.

A tarefa de formar futuros administradores sobre e para a sustentabilidade, e ensinar aos mesmos como viver e trabalhar de uma maneira efetivamente sustentável, parece ser incomensurável. Até agora o que se ensinou nas instituições de nível superior voltadas as formações de líderes, foi como competir pelo lucro num ambiente de rápidas e constantes mudanças. Inexistem os pensamentos inerentes a educação ambiental e a educação para o desenvolvimento social e político nessas Escolas, como se tais temas não fizessem parte do cotidiano social e organizacional da atualidade.

O panorama empresarial atual decorrente das transformações radicais que aconteceram nas últimas três décadas e que envolve, especialmente, aspectos tecnológicos, econômicos, sociais, políticos, ambientais e de conhecimento, tem exigido que as empresas se preparem para competir dentro de um cenário muito mais complexo e dinâmico. Esta nova demanda determina às organizações a adoção de um modelo mais eficaz e mais sólido de gerir os negócios, em que qualidade e preço competitivo não bastam, cumprir as regulamentações e honrar os compromissos financeiros não são suficientes, preocupar-se somente com a concorrência direta e local não é efetivo para sua estabilidade.

Trabalhar sob um modelo econômico movido apenas pela lógica e dimensão do crescimento financeiro, no qual se privatiza o lucro, se socializa o prejuízo, se maximiza a vantagem pessoal, se utiliza a responsabilidade social empresarial ou gestão socialmente responsável apenas para autopromoção, parece não atender mais a esta realidade. Qual então o modelo de gestão necessário para atuar neste mercado mais exigente, onde os aspectos ambientais devam se fazer inserir?

Algumas empresas parecem ter iniciado um movimento de atuação mais consciente e responsável, que objetiva avaliar o impacto de suas ações e operações para além de sua dimensão física, considerando todos os públicos com os quais se relacionam e que constituem sua cadeia de valor organizacional. Estas iniciativas podem ser observadas em ações como: produzir sem agredir o meio ambiente, atuar de forma ética, transparente e respeitosa com o consumidor, funcionários, fornecedores e comunidade, além de integrar as aspirações legítimas da sociedade aos interesses corporativos, o que acaba gerando um grande potencial de retorno financeiro e de imagem, e um ganho claro para os stakeholders.

Além desta pressão externa, as próprias empresas estão reavaliando suas expectativas e exigências em relação ao papel dos gestores neste ambiente mais complexo. Como prepará-los então para essa nova atuação? Que conhecimentos adicionais serão necessários? Que competências precisarão ser desenvolvidas neste sentido?

Para dar conta deste cenário interno e externo mais crítico, demandante e competitivo, algumas empresas escolheram inserir o tema sustentabilidade em sua estratégia de negócios, como forma de corresponder a essa gama de novas exigências e responsabilidades. Para essas organizações, a preocupação não fica restrita somente à obtenção do lucro financeiro. Em outras palavras, essa atuação corporativa busca o ideal de não abrir mão do aspecto econômico, mas incluir e integrar as dimensões social e ambiental em todas as decisões de negócio.

O conceito de sustentabilidade pode ser compreendido como uma derivação do termo desenvolvimento sustentável apresentado pela World Comission for Economic Development (WCED) em 1987, no relatório Our Commom Future, conduzido pela primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, que o define como:

“Um processo de mudanças no qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as transformações institucionais são feitas de forma consistente com as necessidades futuras tanto quanto com as necessidades presentes[1].”

Esta definição carrega em seu bojo um grande desafio para quem escolhe trilhar o caminho da sustentabilidade, sejam empresas, organizações governamentais, não-governamentais, entidades civis e outras, que é equalizar questões de longo prazo (gerações futuras) com resultados de curto prazo (geração atual), obtendo e promovendo benefícios econômicos, sociais e ambientais simultaneamente. Este novo jeito de operar requer um aprendizado e uma reavaliação permanente das empresas, do ponto de vista da estratégia adotada, na relação com seus fornecedores, na preparação de seus gestores ou mesmo com seu grupo de funcionários.

Neste sentido, atuar de maneira mais consciente, mais madura, mais consistente e mais responsável, exige um forte movimento nas organizações para o desenvolvimento, não só de conhecimentos, mas principalmente, de competências nos gestores, que os ajude a lidar com estas situações complexas, incertas, polêmicas e às vezes paradoxais do cotidiano empresarial ou mesmo fora dele.

Assim, construir negócios responsáveis a partir de ações educativas, dentro do escopo de desenvolvimento de gestores, é uma tarefa de longo prazo, que requer um processo de mudança cultural também. Discutir educação para a sustentabilidade empresarial exige, então, não só o entendimento das ações educativas corporativas e do processo de aprendizagem individual dos gestores nas organizações, como, também, o conhecimento sobre competências sob uma outra perspectiva, a perspectiva de que uma empresa ou uma Corporação não vive em uma ilha isolada, onde somente o mercado atuará. Vive, e sobrevive, em um cenário global, onde aspectos ambientais devem ser somados aos sociais e econômicos, o que se tornará muito mais fácil de ser efetivado se pensarmos na necessidade de uma educação ambiental efetiva no ambiente corporativo.

Nota:

[1] ALMEIDA, F. Os Desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. São Paulo: Campus/Elsevier, 2007, p.46.

alexandre-waltrick
Alexandre Waltrick Rates – Advogado. Graduado em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Especialista em Direito Administrativo pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis. Especialista em Direito e Gestão Ambiental pela Faculdade Anita Garibaldi. MBA em Gestão Executiva Internacional pelo Convênio CESUSC/Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia. Mestrando (aguardando defesa) em Gestão de Empresas pela Universidade Lusófona (Portugal). Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Doutorando em Ciências Jurídicas na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. E-mail: [email protected].

 

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